Cientista político Paulo Niccoli Ramirez afirma que tática de bolsonaristas busca melhorar a imagem do presidente, “que se deteriorou por causa da crise econômica, péssima gestão na pandemia e suspeitas de corrupção”
São Paulo – O presidente Jair Bolsonaro (PL) desembarcou na Rússia, nessa terça-feira (15), para se reunir com o presidente do país, Vladimir Putin, e encontro com empresários. O chefe do Executivo brasileiro, com baixa popularidade nacional e internacional, chega ao norte da Europa durante a amenização da tensão entre russos e a Ucrânia.
O governo da Rússia anunciou na manhã de ontem a retirada de parte de suas tropas na fronteira com a Ucrânia. Em seguida, apoiadores do presidente brasileiro começaram a divulgar mentiras sobre a presença de Bolsonaro ter influenciado na decisão de Putin. O ex-ministro do Meio Ambiente Ricardo Salles e o ministro Gilson Machado, do Turismo, por exemplo, compartilharam montagens do presidente como capa da revista Time, afirmando que Bolsonaro teve “papel fundamental” na crise entre os países europeus.
Na avaliação do cientista político e professor da Fundação Escola de Sociologia e Política de São Paulo (Fesp-SP), Paulo Niccoli Ramirez, a tática é fruto do desespero. “Bolsonaro busca outras estratégias, porque sua imagem no Brasil se deteriorou por causa da crise econômica, péssima gestão na pandemia e suspeitas de corrupção. Portanto, ele tenta atrair apoio de seus eleitores. Ontem, uma série de bolsonaristas postaram notícias falsas sobre uma indicação de Bolsonaro ao Nobel da Paz”, disse ao jornalista Rodrigo Gomes, da Rádio Brasil Atual, nesta quarta-feira (16).
Bolsonaro na Rússia
Por conta das rígidas regras sanitárias no Kremlin, o protocolo russo exigiu que o presidente Jair Bolsonaro permanecesse confinado em seu hotel, em Moscou, até que ocorresse a reunião com o presidente Vladimir Putin. As exigências dos russos deixaram o Planalto irritado, inclusive questionando se outros líderes teriam tido o mesmo tratamento. Uma das preocupações da ala mais radical no Executivo brasileiro era de que a imposição fosse usada no Brasil para evidenciar o fato de que Bolsonaro cumpre regras sanitárias no exterior, mas não no país.
De acordo com o cientista político, Bolsonaro tenta vender a viagem para se passar por um líder internacional respeitado, entretanto, apenas foi representar interesses de empresários brasileiros. “A viagem serviu para vender uma imagem internacional de Bolsonaro, vender uma mentira de que ele confeccionou um acordo de paz, enquanto ele apenas foi representar o agronegócio brasileiro em busca de preços mais baratos de fertilizantes. O presidente brasileiro é um mero coadjuvante no cenário internacional”, disse Niccoli. (RBA) – Foto: Alan Santos/PR