Fim do Ceitec pode ser revertido, mas sem voltar a fabricar semicondutores

Criado no governo Lula, único fabricante de semicondutores do Brasil pode ser transformado em centro de formação de mão de obra para o setor

São Paulo – Após muita pressão de cientistas, sindicalistas, trabalhadores e trabalhadoras do Centro Nacional de Tecnologia Eletrônica Avançada (Ceitec), o governo federal estuda rever a extinção da estatal. Localizada em Porto Alegre (RS), ela é única fabricante no Brasil de semicondutores, produto que está em falta no mundo, inclusive, afetando a produção de veículos automotores.

O assunto foi discutido no painel “A Falta de Semicondutores e Oportunidades“, realizado pela 74ª reunião anual da Sociedade Brasileira para o Progresso da Ciência (SBPC), na terça-feira (26). A reunião da SBPC com o tema “Ciência, independência e soberania nacional” prossegue até sábado (30), em Brasília.

Durante o debate, o diretor do Departamento de Ciência, Tecnologia e Inovação Digital do Ministério da Ciência, Tecnologia e Inovações (MCTI), Henrique Miguel, afirmou que a pasta “está prestes” a lançar o “Plano Brasil Semicondutores”. Segundo o diretor, o plano prevê entendimentos com técnicos do Ministério da Economia para rever a decisão de extinguir o Ceitec.

Na realidade, apesar de a crise da falta de semicondutores pressionar o governo Bolsonaro a rever a liquidação da Ceitec, a reativação da fábrica, se ocorrer, não será nos moldes como foi criada pelo governo Lula, em 2008: fortalecer o desenvolvimento da indústria brasileira de ponta e competir com o mercado mundial.

Capacitação

A ideia que está sendo discutida pelo MCTI é transformar as instalações numa espécie de centro de treinamento e capacitação de mão de obra especializada no setor. A intenção é de que empresas poderiam ser atraídas para o Brasil com a revisão de programas de incentivos à produção de chips pelo governo.

O plano é fruto de negociações do MCTI com o grupo “Made in Brazil Integrado”, formado por entidades que representam diversas cadeias produtivas que dependem de chips para a produção de produtos no mercado brasileiro.

Henrique Miguel fez uma apresentação das metas do novo plano e como ele impactará a cadeia produtiva de semicondutores. No entanto, ao cobrado pelos presentes sobre o fim da estatal de semicondutores, Henrique Miguel mostrou claramente que, se depender do MCTI do governo Bolsonaro, a fábrica terá outros destinos.

A luta pela preservação do Ceitec

Audiência pública realizada no último dia 14 na Câmara dos Deputados questionou o processo de liquidação do Ceitec, que se encontra suspenso pelo Tribunal de Contas da União (TCU) desde setembro de 2021.

O professor e ex-secretário estadual de Ciência e Tecnologia do Rio Grande do Sul, Adão Villaverde, disse que “concluir a liquidação da Ceitec significa tirar o Brasil do seleto grupo de produção de semicondutores do ponto de vista mundial. É um equívoco”. Ele lembrou que “já foram mais de 162 milhões de produtos na área de microeletrônicos que foram entregues pela Ceitec”.

“Liquidar, desmobilizar a fábrica, é um erro”, alertou à época, o presidente da Associação dos Funcionários da Ceitec (Acceitec), Silvio Luís Santos Júnior, que defendeu a remoção da empresa do Programa Nacional de Desestatização. “Porque ela precisa ser pensada na retomada, não na liquidação. O estrago que já foi feito é reversível”, sustentou. (RBA) Foto: Divulgação

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